2 de jan. de 2010

Séculos (sem) higiene


Muitas vezes ouvi dizer que o mundo moderno é muito pior que antes: mais violência, mais correria, mais stress, mais guerras.... Pois eu discordo veementemente!
Vejamos: primeiramente as guerras existiam desde a pré-história, ela não é exclusividade do mundo moderno, vem dizimando vidas, mudando a geografia política, minando recursos e produzindo novos ricos e novas nações desde que o mundo é mundo.
Quanto à violência, correria e stress, sou obrigado a concordar, vivemos num mundo atribulado, exigente e sem piedade, aqueles que não conseguem se adaptar ou se excluir dessa correria certamente irá sofrer graves consequências.
Porém, existem inúmeros outros aspectos que o mundo melhorou … e muito! Gostaria de focar um desses aspectos: A higiene e saneamento básico.
A pouco tempo li algo que fiquei horrorizado. Na época de ouro dos reinos europeus, entre os séculos XVI e XVIII, o saneamento básico era algo distante mesmo da nobreza. No famoso palácio de Versalhes, um decreto de 1715 estipulava que as fezes e outros dejetos seriam recolhidos dos corredores uma vez por semana. Tentem imaginar aqueles corredores cheios de fezes, urina, restos de comida e tudo mais que se possa imaginar. Não é a toa que a média de vida nessa época era inferior a 30 anos.
Este reveillon eu passei em Paraty. Para quem não sabe, Paraty é uma cidade no litoral sul do Rio de Janeiro. É uma cidade histórica, fundada em 1630, e com uma beleza natural esplêndida. Acontece que este final de ano choveu muito, mas muito mesmo, e o centro histórico da cidade alagou todo. Em conversa com os pessoal local, descobri que isso é normal na cidade. A cidade foi projetada em um nível muito baixo de forma que a maré alta entrasse pelas ruas da cidade e lavasse as fezes, lixo e todo tipo de dejetos que era jogado na rua. Ou seja, este era o supra-sumo no quesito limpeza urbana da época.
Nem precisamos ir tão longe, em minha infância, quando passava férias na casa de minha avó, não tínhamos água encanada e nem eletricidade. A água vinha de uma bica em um córrego ao lado da casa. Para satisfazermos nossas necessidades fisiológicas, recorriamos a uma “casinha” que ficava sobre um pequeno córrego. Dentro da casinha tinha um pequeno trono de madeira com o buraco no assento (como nossos vazos sanitários de hoje). Quando olhávamos pelo buraco do assento víamos o córrego passando embaixo, então bastava nos sentarmos, relaxar e deixar a natureza fazer seu trabalho. O que fizéssemos caía no córrego e era levado água abaixo.
Depois de visitar Paraty, ler este texto sobre o palácio de Versalhes e me lembrar dessa particularidade de minha infância, entro no banheiro da minha casa, dou descarga e fico imaginando para onde vai aquela merda toda.
Apesar de toda melhora, menos de 1% dos esgotos são tratados. Ou seja, quando puxo a descarga, a coisa não fica muito diferente daquela casinha da minha avó, mas com certeza é bem melhor que aquele palácio.
Vejam mais sobre a história da higiene no endereço http://veja.abril.com.br/121207/p_192.shtml